Do desejo de embarcar no ônibus do Tribunal, ele levou a família junto para a carreira pública

20/09/2021 12:00 595 visualizações

Aos 54 anos de idade ele já soma 38 de atividade no Poder Judiciário de MS. De “carteira assinada” já são mais de 40. Trabalhando desde os 9 anos de idade, Oilson Fernandes dos Santos Junior foi entregador de pastéis, depois trabalhou como atendente de farmácia, até o primeiro registro ser oficializado aos 12 anos num pet shop onde, além do atendimento ao público, era montador de aquários. “As pessoas compravam todos os itens e eu ia até a casa delas montar”, recorda.

Morando próximo da avenida Bandeirantes, em Campo Grande, ele sempre foi caminhando para o serviço e no trajeto cruzava com o ônibus do Tribunal de Justiça. Aí imaginava que seria bom estar do lado de dentro dele. Por indicação de uma amiga da igreja, conseguiu uma oportunidade aos 16 anos, quando foi contratado para trabalhar como auxiliar de almoxarifado no Tribunal.

“Naquela época era permitido trabalhar de carteira assinada com a minha idade, mas conta em banco somente com a maioridade, que era aos 21 anos. Então, eu precisava me dirigir todos os meses até o Edifício Cosmos, onde o Tribunal ocupava alguns andares, e buscar o cheque do meu pagamento”.

Até que no ano que completaria 18 anos foi convocado ao serviço militar obrigatório. Retornou no ano seguinte, em janeiro de 1987, e encontrou uma atmosfera diferente no TJ. Entre os colegas de trabalho, a grande maioria contratado, o sonho da estabilidade motivou a formação de grupos de estudo para o concurso de técnico judiciário.

“Pela manhã estudávamos e à tarde cada um ia para o seu setor. Um colega meu do almoxarifado gravou em fita cassete uma apostila de Direito para as provas”, lembra o esforço coletivo.

As provas ocorreram em 1989 e ele tomou posse em 20 de agosto de 1990. Sua aprovação, conta ele, mudou a realidade de toda a família. “Até então não acreditávamos muito em concurso público, achávamos que eram cartas marcadas. Mas depois de mim, minhas irmãs se motivaram e duas delas são servidoras do Ministério Público e a outra é minha colega no TJMS. Até minha mãe virou servidora do TJ por meio de um concurso que teve na época do desembargador Milton Malulei para cozinheira da creche”.

Após ser empossado, aos 23 anos de idade, ele foi para a seção de expediente na Corregedoria. O serviço era totalmente diferente do que já tinha feito até então. Mas aprendeu o novo ofício e se tornou, inclusive, chefe da seção por 5 anos.

Casado e pai de três filhos, a opção pela carreira pública também foi escolhida pela sua esposa. “Acabei motivando a família da minha esposa também. Além dela, que hoje é minha colega de Tribunal, uma cunhada minha se tornou servidora do MP, a outra passou no concurso para professora e meu cunhado é policial”.

E foi por conta da aprovação da mulher em 1998 para escrevente na comarca de Dourados que ele pediu sua transferência para lá. O plano do casal era aproveitar para cursar Direito e, cinco anos depois, retornar para a capital. Mas as oportunidades foram aparecendo, os filhos já estavam em idade escolar e eles permaneceram.

Em Dourados trabalhou na Direção do Foro e foi diretor do Departamento de Administração por quatro anos, enquanto sua esposa era distribuidora. Até que em 2015 resolveram prestar o processo seletivo para oficial de justiça: “Tínhamos um combinado. Eram os últimos anos de nossa carreira no Judiciário e, se ambos passassem, iríamos nos aventurar numa área que ainda não tínhamos atuado”.

Aprovados, hoje trabalham em dupla muitas vezes, sobretudo nos cumprimentos em que é mais arriscado para sua esposa ir sozinha. Sobre a nova experiência, ele disse que embarcou noutra realidade. “Quando você está na rua, você percebe a justiça na prática e eu gosto muito porque acabo me sentindo mais útil para a sociedade. Quando chego com uma intimação para uma pessoa, ela só tem a mim como referência para explicar o que está acontecendo”.

Mas às vezes não é possível acalmar as partes e ele já passou por situações de perigo, uma delas quando ele e sua esposa foram recuperar um trator numa fazenda. “Chegamos lá, no meio do mato e fomos cercado por umas 20 pessoas que impediram a retirada. A conversa não resolveu e a noite foi chegando. Então dei um ultimato que iria chamar a polícia, que também não adiantou, então eu tive que ligar mesmo. Já estava com receio se conseguiria contato. Mas deu certo e, para minha sorte, a polícia chegou em 10 minutos e daí a conversa foi outra”.

“Outra vez fui cumprir num bairro da periferia de Dourados um afastamento coercitivo de marido. Quando cheguei, ele pulou a janela e correu mato adentro e eu corri atrás e, quando vi, havia cinco motos da polícia ao meu lado me dando apoio. Deu tudo certo com a ajuda deles, claro, mas eu fiquei curioso para saber quem os tinha acionado. Os policiais me contaram que estavam passando quando viram o fugitivo e, eu, no seu encalço. Então, nessa vida de oficial de justiça, precisamos ser abençoados em certas situações porque senão, num instante para o outro, nos colocamos em situações de risco”, relatou.

Perrengues à parte, para Oilson, ter se tornado servidor público fez muita diferença. “Abençoou a minha vida e a de toda a minha família também e a da família da minha esposa”. E seu êxito, lá atrás, que começou do desejo de poder embarcar num ônibus para trabalhar continua gerando novos frutos até hoje, pois seus filhos já estão seguindo o mesmo caminho: “São todos concurseiros. O mais velho já foi aprovado na Sanesul e hoje trabalha na UEMS e os outros dois estudam para concurso”.

Autor da notícia: Secretaria de Comunicação - imprensa@tjms.jus.br